Vanessa Almeida: “O INTERACT permitiu-me evoluir profissionalmente”
O INTERACT não se faz sem investigação. Este é uma das entrevistas da série #SomosINTERACT que pretende dar a voz aos bolseiros de investigação envolvidos no projeto.
Nesta entrevista, Vanessa Almeida, bolseira de investigação afeta à linha VITALITY WINE, falou sobre a sua investigação e na forma como o projeto a fez olhar para a agronomia de outra forma.
Perfil
Vanessa Almeida é uma bolseira de investigação do projeto INTERACT. Está, neste momento, a realizar o Doutoramento em Ciências Químicas e Biológicas.
Afeta à linha VITALITY WINE, a sua investigação está enquadrada na tarefa Maximizing soil functional agrobiodiversity for a more sustainable viticulture, focando-se na avaliação e monitorização dos fluxos de mineralização e nitrificação de azoto em solos vitivinícolas em função da temperatura e humidade do solo.
Que investigação está a desenvolver no INTERACT e em que consiste?
O nosso trabalho de investigação consiste em avaliar e monitorizar os fluxos de mineralização e nitrificação de azoto em solos vitivinícolas em função da temperatura e humidade do solo. Além disso, e tendo presente as alterações climáticas, o nosso trabalho tem como objetivo modelar as emissões de carbono para a atmosfera, isto é, a respiração do solo, bem como os fluxos de mineralização e nitrificação de azoto, recorrendo a incubações de média duração em laboratório, que nos permitem estabelecer superfícies de resposta em função da temperatura, humidade e a interação destas variáveis. Com estas funções, poderemos antecipar algumas das consequências destas alterações climáticas.
Adicionalmente, estamos a estudar o efeito do cobre, um metal tipicamente acumulado em solos vitivinícolas, no ciclo do azoto.
Qual a aplicabilidade da sua investigação e que novidades vem acrescentar à investigação já existente?
Perceber os fluxos de mineralização e nitrificação nos solos, antecipar estas taxas, e as influências das variáveis climatéricas nestes fluxos pode permitir uma adequação da fertilização destes solos e ajudar na promoção de uma absorção eficiente de azoto pelas culturas.
Que resultados já foram obtidos?
Com a colaboração dos vários stakeholders que contribuem para o nosso trabalho (como quintas, empresas e produtores vitivinícolas), foi-nos possível reunir uma amostragem representativa das regiões vitivinícolas portuguesas. Foram monitorizados os fluxos de mineralização e nitrificação de azoto ao longo dos últimos dois anos e meio. Para além disso, foram realizadas em laboratório diversas incubações de médio prazo com variações de temperatura e humidade que nos permitiram desenhar superfícies de resposta, estabelecer correlações entre as monitorizações efetivas e os ensaios de incubação laboratoriais.
Já nos é possível antecipar algumas conclusões do trabalho realizado. A interação temperatura-humidade apresenta um maior efeito quer nas emissões de carbono, em forma de dióxido de carbono para a atmosfera, quer na mineralização de azoto, com o efeito da humidade do solo a ser mais nítido com o aumento da temperatura. Estes resultados em ensaios laboratoriais são concordantes com os resultados em amostras de campo. Em relação ao estudo que envolve a influência do cobre nestes fluxos do ciclo do azoto, em solução, o cobre induz diferenças significativas no potencial de nitrificação e de desnitrificação, em ensaios laboratoriais.
A acumulação de cobre em solos vitivinícolas, apesar dos efeitos negativos que possa ter no metabolismo da videira e na atividade microbiana do solo, pode diminuir as perdas de azoto em forma de nitratos por lixiviação bem como a emissão de óxidos de azoto para a atmosfera.
Que balanço faz da sua participação no projeto INTERACT?
É bastante positivo. Este projeto interdisciplinar e bem estruturado permitiu-me evoluir profissionalmente, dando-me a oportunidade de desenvolver o meu trabalho de doutoramento no âmbito do projeto.
A sua participação no projeto abriu-lhe perspetivas para outras investigações em outras áreas?
Este projeto permitiu-me alargar horizontes. A minha formação base é Bioquímica mas relacionada com as Ciências da Saúde e, desta forma, a participação no projeto fez-me ter contacto com metodologias que, para mim, eram desconhecidas, desenvolvendo o meu trabalho no Laboratório de Solos e Plantas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Além disso, possibilitou-me olhar para a agronomia, e mais concretamente para os solos, como um ecossistema onde a bioquímica também tem um papel determinante. É uma área onde há muito por explorar numa perspetiva não puramente química, mas biótica (biológica e bioquímica).