Alexandre Gonçalves: “A mais-valia do INTERACT é ter permitido projetar trabalhos de investigação em volta das necessidades dos diferentes setores”
O INTERACT não se faz sem investigação. Este é uma das entrevistas da série #SomosINTERACT que pretende dar a voz aos bolseiros de investigação envolvidos no projeto.
Nesta entrevista, Alexandre Gonçalves, bolseiro de pós-doutoramento, falou sobre a sua investigação e na forma como o INTERACT lhe abriu portas para outros projetos.
Que investigação está a desenvolver no INTERACT e em que consiste?
O grupo de investigação onde estou inserido trabalha na área da Fisiologia Vegetal o que nos permite trabalhar em colaboração com os Colegas da linha VitalityWine que têm objetivos semelhantes aos nossos para a área da viticultura. O grande objetivo da nossa tarefa é investigar a introdução de novas práticas agrícolas e tecnologias que promovam uma olivicultura sustentável sem prejuízo da produção e da qualidade do azeite. Temos vários ensaios experimentais instalados em alguns dos maiores olivais de Trás-os-Montes, nos quais procuramos aumentar a eficiência produtiva dos olivais tradicionais com recurso, por exemplo, a uma melhor gestão da água da rega; melhor estratégias de fertilização; implementar práticas de gestão da cobertura do solo recorrendo a leguminosas que promovam maior retenção de água, maior teor de matéria orgânica, maior sequestro de carbono e conduzam a menores necessidades de fertilização; e, ainda, recorremos a novos produtos e tecnologias, como é o caso do caulino, zeólitos ou melatonina, que possam auxiliar as oliveiras a mitigar os efeitos de stress que sofrem durante o período estival, e que prevemos que venham a aumentar como consequência das alterações climáticas projetadas.
Qual a aplicabilidade da sua investigação e que novidades vem acrescentar à investigação já existente?
Na minha opinião, a mais-valia principal do projeto INTERACT é ter permitido, a esta escala, projetar os trabalhos de investigação em volta das necessidades de diferentes setores, como é o caso da olivicultura, viticultura, ambiente,…
Em concreto na tarefa 3, temos a oportunidade de trabalhar diretamente com os principais produtores de azeite de Trás-os-Montes: a Acushla S.A., com cerca de 210 hectares de olival plantados em Vila Flor conduzido em regime de produção biológica, e onde estamos a trabalhar em conjunto no aumento da eficiência produtiva com recurso a novas estratégias de rega; com a Casa de Santo Amaro em Mirandela, onde trabalhamos em estreita colaboração com o engenheiro Francisco Pavão, um dos maiores especialistas nacionais em azeite, e procuramos responder a dificuldades identificadas nos olivais destes produtores como a gestão da cobertura dos solos; e, por último, colaboramos com a empresa Quinta Vale do Conde em Mirandela, onde estamos a implementar estratégias de fertilização recorrendo a tecnologias como os zeólitos e biochar em conjunto com compostado de subprodutos das produções agrícolas locais.
Além de empresas, trabalhamos ainda em colaboração com o Instituto Politécnico de Bragança e com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, onde procuramos aumentar a eficiência da fertilização, estudando o papel dos macro e micronutrientes em olivicultura e ainda a possibilidade de utilização dos resíduos sólidos urbanos como fertilizantes no olival.
Toda a investigação é de aplicação imediata nos olivais/produtores com quem estamos a colaborar. Além de aprofundarmos os assuntos em estudo em termos de investigação científica, com a publicação de artigos científicos e técnicos, é nossa esperança que outros grandes e pequenos produtores sigam as tendências “mais amigas do ambiente” que estamos a implementar juntos dos nossos Colaboradores, os quais são já vistos como líderes e inovadores do setor, cujas práticas agrícolas devem ser seguidas.
Que resultados já foram obtidos?
Dentro dos resultados mais relevantes obtidos nos últimos anos, destaca-se o aumento da eficiência no uso da água de rega. Identificámos necessidades hídricas diferentes ao longo dos diferentes estados fenológicos das plantas, o que permitiu definir estratégias de rega deficitária reguladas ao longo da época produtiva, mantendo assim boas produções, aumentar a qualidade da produção e reduzir o consumo de água. Por sua vez, a gestão de cobertura dos solos, recorrendo a leguminosas, permite manter as plantas com melhores índices hídricos, o que se reflete em maiores produções e na redução de custos com a gestão da cobertura do solo.
Os resultados das linhas de investigação associadas à fertilização têm bons indicadores. No entanto, enquanto efetuamos a análise dos dados deste terceiro ano produtivo, não podemos comprometermo-nos com resultados finais. Podemos, no entanto, indicar que temos observado uma oportunidade para aumentar a eficiência da fertilização permitindo reduzir aos custos associados sem perder produção e/ou rendimentos em azeite.
Que balanço faz da sua participação no projeto INTERACT?
A participação neste projeto é extremamente positiva pelo facto de me ter permitido explorar um setor tão importante para a nossa região e para o País. O contacto com os maiores produtores olivícolas de Trás-os-Montes permitiu identificar problemas, procurar soluções e estabelecer parcerias.
As equipas envolvidas no projeto INTERACT trabalham em colaboração o que também me permitiu trabalhar em vinha e aqui também identificar quais as dificuldades e necessidades que o setor atravessa.
O projeto INTERACT permitiu associar os nossos trabalhos de investigação com o desenvolvimento dos trabalhos de doutoramento de diferentes alunos, em especial no meu caso com alunos do Programa Agrichains. Esta associação permitiu-me desenvolver capacidades de gestão relacionadas com aspetos técnicos do projeto. Deixo o meu reconhecimento a todos os alunos de mestrado e doutoramento que também contribuíram e contribuem para o sucesso do projeto INTERACT.
O projeto INTERACT traz valor acrescentado para as empresas com quem colaboramos, para a nossa instituição em termos de investigação, com papel central de divulgação de conhecimento, e para a Região em termos de desenvolvimento.
A sua participação no projeto abriu-lhe perspetivas para outras investigações em outras áreas?
Fruto das colaborações efetuadas no projeto INTERACT com as diferentes empresas, foi possível a submissão de novas candidaturas a projetos financiados. Além de estarmos de momento à espera da decisão de avaliação de dois projetos em copromoção submetidos no início de 2018, o projeto “Novas práticas em olival de sequeiro: estratégias de mitigação e adaptação às alterações climáticas” foi recentemente aprovado.
Somos ainda abordados por empresas de diferentes setores para assistir na implementação de novos projetos com objetivos bastante diferentes. A título de exemplo, deslocámo-nos este ano a Bilbao, ao estádio de San Mamés, para assistir uma empresa da área da iluminação LED a implementar uma solução de iluminação ao relvado, específica à situação deste estádio, que, além de reduzir custos associados à tecnologia LED, permite aumentar a eficiência estudando os parâmetros fisiológicos do relvado instalado.
Perfil
Alexandre Gonçalves é um dos bolseiros de investigação do projeto INTERACT. Doutorado em Genética Molecular, Comparativa e Tecnológica pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, é bolseiro de pós-doutoramento do projeto, estando afeto à linha ISAC.
Investigar a introdução de novas práticas agrícolas para a promoção de uma olivicultura sustentável é o objetivo da investigação levada a cabo pelo investigador e pelo grupo onde Alexandre está inserido.