Impactos das alterações climáticas poderão ser “significativos em todo o país”
O investigador do projeto INTERACT Professor João Santos foi um dos intervenientes no artigo do jornal Público “No Douro a luta é mais pela qualidade da uva do que pela sobrevivência da vinha” (acesso exclusivo a assinantes) da autoria dos jornalistas patrícia Carvalho, Adriano Miranda e Teresa Pacheco Miranda.
O também docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e investigador do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) apresentou a sua perspetiva sobre os “impactos que as alterações climáticas estão a ter na região do Douro, dando maior ênfase à agricultura e à viticultura em particular”.
Com as alterações climáticas, “é muito provável que as características das uvas produzidas sejam alteradas”
No artigo do jornal diário, o docente indica que “a videira é uma planta muito resistente à temperatura e à secura. Mas uma coisa é falarmos da sobrevivência da planta, outra é falarmos da rentabilidade económica da planta” que será afetada. “Posso ter uma oliveira ou uma videira e elas não morrem, mas e a produção? E a qualidade do que produzem? Ou é nada ou não é economicamente rentável. Por isso, temos tanto olival e vinha com rega”, constata.
O investigador sustenta que “a alteração do clima de uma dada região afeta diretamente, e de forma muito significativa, o seu ‘terroir’, dado que o clima e as condições meteorológicas são fatores determinantes no desenvolvimento fisiológico da videira, com repercussões na quantidade e qualidade da uva produzida”, aspeto que é “determinante na tipicidade do vinho de uma dada região”.
É certo que há um potencial de adaptação das práticas enológicas e que o setor no Douro “é de vanguarda e está bastante avançado”. Mas há um limite e corre-se o risco de que os “produtores (…) com resistência à mudança” poderem simplesmente abandonar o cultivo, se se tornar demasiado difícil tirar rendimento da vinha”, visto que, com as alterações climáticas, “é muito provável que as características das uvas produzidas sejam alteradas”. “Tudo dependerá da evolução do clima nas próximas décadas, o que dependerá das emissões de gases com efeito de estufa e, em última instância, das políticas globais e nacionais, de eventuais acordos internacionais e das trajetórias societais”, afirma.
Sobre as alterações climáticas, João Santos diz ter “muitas dúvidas sobre quais serão as regiões nacionais mais afetadas” pela redução da precipitação. “As regiões de maior densidade populacional poderão sofrer maiores impactos que as regiões interiores”, apesar de se prever que o aquecimento seja “mais pronunciado no interior do que na faixa litoral”. O investigador considera ser “muito difícil de avaliar” os impactos socioeconómicos destas alterações. “Dada a baixa densidade populacional (das regiões interiores), a pressão sobre os recursos hídricos tenderá a ser menor”, refere o docente, acrescentando que “a cobertura vegetal tende a ser mais resiliente ao calor e à secura que a que encontramos no litoral, estando, por isso, mais adaptada aos climas futuros”.
Sendo uma das vertentes do projeto científico, o INTERACT tem-se debruçado sobre os efeitos das alterações climáticas, principalmente, na região do Alto Douro Vinhateiro. “Foram desenvolvidas novas bases de dados de clima com muito alta resolução espacial”, indica o investigador, acrescentando que foram elaborados “estudos dos impactos das alterações climáticas em diversas bacias hidrográficas em Portugal”. Estas ferramentas reúnem informações sobre o clima “para um período histórico e para cenários futuros”, permitindo “avaliar os impactos em diversos índices bioclimáticos associados a espécies agrícolas e florestais”. As metodologias já tiveram uma aplicação prática: “Desenvolvemos o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Tâmega e Sousa”, exemplifica João Santos.