“Estratégias de sobrevivência da videira e medidas de adaptação de longo prazo: caso de estudo na Região do Douro”
Até dezembro de 2019, os investigadores vão relatar o que foi desenvolvido e as conclusões obtidas ao longo de todo o projeto INTERACT. Neste artigo, João Paulo Coutinho e Aureliano C. Malheiro, investigadores dos projetos “Training system adaptive potential to regional environmental conditions” e “Characterisation of the vineyard microclimate conditions and crop survival strategies”, dentro da linha VITALITY WINE, fazem uma resenha dos principais resultados obtidos.
Na Região Demarcada do Douro, em particular na sub-região do Douro Superior, os verões caracterizam-se por serem quentes e secos induzindo uma baixa disponibilidade hídrica para a videira. Importa assim compreender como a implementação de medidas de adaptação de longo prazo auxiliam na mitigação dos stresses estivais (radiativo, térmico e hídrico). Deste modo, no âmbito das Atividades 3.2 e 3.3 do projeto INTERACT-VITALITY WINE foi instalado um campo experimental numa vinha comercial, situada na “Quinta do Orgal” (figura 1), em Vila Nova de Foz Côa, com as castas Touriga-Nacional conduzida em ‘Guyot’ e cordão unilateral e a Touriga-Franca em cordão unilateral, ambas enxertadas em 1103P.
Foi definida uma bordagem integradora ao nível do estudo do contínuo solo-videira-atmosfera: monitorização de variáveis microclimáticas, humidade do solo, potencial hídrico foliar, índice de área foliar, variação do diâmetro do tronco, fluxo de seiva xilémica (figura 2), entre outras. Desenvolveram-se igualmente curvas de suscetibilidade à cavitação (aumento da perda percentual de condutividade com a diminuição do potencial hídrico) no intuito de avaliar a resiliência das castas à secura. Complementariamente, esta última metodologia foi ainda aplicada em videiras de ambas as castas enxertadas em 110R e 1103P, plantadas no campus da UTAD.
A medição do fluxo de seiva xilémica e da variação do diâmetro do tronco revelaram ser técnicas automatizáveis complementares na avaliação da dinâmica hídrica da videira (figura 3). Por outro lado, observou-se uma clara relação entre o aumento da perda percentual de condutividade do xilema com a diminuição do potencial hídrico. Verificou-se uma menor suscetibilidade à cavitação da casta Touriga-Franca relativamente à casta Touriga-Nacional, cujos vasos xilémicos sofrem embolismos a valores de potencial hídrico ligeiramente menos negativos do que na Touriga-Franca. Os resultados apontam para o significativo potencial adaptativo do ‘Guyot’ e suportam a adequação de ambas as castas e dos dois porta-enxertos ao clima da região.