“ISAC 3: Melhorar as práticas no olival num clima em mudança”
Até dezembro de 2019, os investigadores vão relatar o que foi desenvolvido e as conclusões obtidas ao longo de todo o projeto INTERACT. Neste artigo, Carlos Correia, investigador da tarefa “Improving olive orchards cropping practices to cope with a changing environment“, dentro da linha ISAC, faz uma resenha dos principais resultados obtidos.
Em consequência de mudanças no sistema climático à escala global, as regiões da Europa com aptidão para a olivicultura sofrerão o aumento da temperatura média e a diminuição da precipitação, particularmente durante o período Primavera-Verão, acompanhados da ocorrência de fenómenos extremos (ondas de calor e seca, entre outros). Como corolário, são esperados efeitos negativos para a fileira olivícola, incluindo redução da produtividade, agravamento do fenómeno de alternância e alterações da severidade da ocorrência de pragas e doenças e da qualidade da produção, com possíveis repercussões nos domínios da sustentabilidade económica, abandono da atividade, desertificação e agravamento de problemas ambientais. Tendo como objetivo geral a adaptação do olival a novas condições climáticas, foram estudadas no âmbito do projeto INTERACT práticas de gestão racional da água em olival de regadio e de gestão da fertilização, da manutenção da superfície do solo e da aplicação de protetores foliares em olival de sequeiro. Dos vários ensaios realizados em pomares comerciais nos concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros, Mirandela e Vila Flor e em vasos (Vila Real), destacam-se as ilações seguintes reportadas em revistas internacionais da especialidade:
Dos dois regimes de rega deficitária (contínua, RDCi, 27,5% de ETc; controlada, RDCl, 55% de ETc), com carácter diário, e um de baixa frequência, RDBF (21% de ETc, periodicidade semanal), em comparação com rega normal (100% de ETc), sobressaíram os tratamentos RDCi e RDCl que não exibiram alterações significativas na performance fisiológica e capacidade produtiva das árvores, pelo que apresentaram um grande incremento na produtividade da água. Em oposição, as árvores do tratamento RDBF mostraram problemas sérios nos indicadores fisiológicos e bioquímicos (sinais de stresse oxidativo) que se refletiram na produtividade. Todos os tratamentos de rega deficitária apresentaram alterações no metabolismo secundário (folhas e frutos), com aumento das concentrações de compostos fenólicos totais, orto-difenóis e flavonoides e capacidade antioxidante total, bem como do teor de gordura. A evolução dos perfis fenólicos nos frutos ao longo da maturação mostraram a relevância de uma colheita precoce, tendo em vista a obtenção de níveis mais elevados de oleuropeína, composto com propriedades benéficas para a saúde.
A aplicação foliar de ácido salicílico (AS), uma hormona vegetal, melhorou significativamente as respostas fisiológicas da oliveira em condições de défice hídrico devido ao maior investimento relativo no sistema radicular, à maior absorção de minerais, particularmente micronutrientes, e a um melhor equilíbrio entre a formação e a eliminação de espécies reativas de oxigénio, vindo a refletir-se em maior acumulação de biomassa (estudo em vasos) e crescimento e produção de azeitona (estudo em condições de campo). Em todo o caso, os efeitos foram dependentes da concentração usada.
A aplicação foliar de caulino (CL), uma argila, provocou uma melhoria no estado hídrico, atividade fotossintética e balanço hormonal (IAA e ABA) e uma menor necessidade de investimento em mecanismos protetores de natureza estrutural e bioquímica, o que se expressou em aumento de produção.
Com particular interesse foi também a verificação da ausência de efeitos significativos do AS e do CL nos parâmetros de qualidade das azeitonas e do azeite, tendo inclusive os azeites apresentado menor formação de produtos de oxidação secundária. Do mesmo modo, destacou-se o efeito protetor dos 2 produtos na proteção contra a deterioração da qualidade do azeite, nomeadamente relacionada com a atividade antioxidante total, quando a colheita foi efetuada após a incidência de geadas, reforçando o interesse de antecipar as datas de colheita em regiões com elevado risco de geadas. Pelo exposto, concluímos que são duas ferramentas interessantes de baixo custo para o olival.
Os efeitos benéficos do caulino foram também demonstrados em olival com rega deficitária (RDCi), com melhoria da atividade fisiológica, produção de azeitona e azeite e qualidade do azeite (índice de peróxidos e K232). Os resultados, após 2 anos de aplicação, em 2 ensaios em condições edafoclimáticas distintas, evidenciaram ainda que não houve qualquer efeito negativo do CL nas propriedades do solo, tendo até sido verificado o aumento da concentração de proteínas no solo relacionadas com glomalina, glicoproteína produzida por fungos micorrízicos arbusculares e bom indicador da “saúde” do solo. Assim, a aplicação de caulino pode ser uma prática complementar à rega deficitária, especialmente em áreas onde a água disponível para irrigação não cobre as necessidades mínimas da cultura.