Medidas de curto-prazo de adaptação da viticultura duriense às alterações climáticas: estudos fisiológicos
Até dezembro de 2019, os investigadores vão relatar tudo o que foi desenvolvido e as conclusões obtidas ao longo de todo o projeto INTERACT. Neste artigo, Ana Gonçalves Luzio, investigadora do projeto “Grapevine physiological studies, oxidative stress and antioxidant defense system“, dentro da linha VITALITY WINE, faz uma resenha dos principais resultados obtidos.
Em Portugal, de modo particular na Região Demarcada do Douro (RDD), a produção vinícola é um dos setores mais importantes, tanto a nível social, económico como cultural. No entanto, a produção nesta região tem estado muito vulnerável devido à elevada radiação e temperatura associada a períodos de seca severa, observados principalmente no período estival. Numa perspetiva de alterações climáticas, prevê-se futuramente um agravamento destas condições.
Tendo em conta que parte da RDD está já no limite de resistência, a viabilidade económica do setor poderá aí estar fortemente ameaçada. Nestas condições, danos das videiras sujeitos a stresse hídrico, luminoso e térmico podem tornar-se irreversíveis. Para mitigar estes efeitos, muitas empresas têm investido no regadio. No entanto, tanto a escassez de recursos hídricos como a topografia irregular da região tornam os custos desta prática económica e ambientalmente insustentáveis. Como tal, é preponderante que o sector vitivinícola encontre medidas alternativas ou complementares que ajudem a minimizar esses problemas, assegurando que as vinhas consigam manter no futuro o mesmo padrão de qualidade e tipicidade das uvas, sem prejuízo da sustentabilidade ambiental de todo o ecossistema vitícola.
Focados nesse objetivo, no âmbito da linha de investigação VITALITY WINE do Projeto INTERACT, têm-se experimentado diversas medidas de adaptação de curto e de longo-prazo. Nesta atividade testaram-se algumas medidas de curto-prazo, nomeadamente a aplicação foliar, no início do verão, de caulino em duas castas (Touriga Nacional-TN e Touriga Franca-TF) e diferentes concentrações de silicato de potássio numa casta (TF) na Quinta do Orgal, Vila Nova de Foz Côa – Douro Superior (Fig. 1A) com o intuito de aumentar a capacidade de reflectância das folhas e a resistência das paredes celulares aos danos provocados pela excessiva desidratação, respetivamente.
Posteriormente, ao longo do verão, foram monitorizadas em campo as respostas fisiológicas das videiras e foram feitas recolhas de folhas e frutos (Fig.1B) para posterior análise em laboratório. Globalmente, os resultados mostraram que a aplicação de caulino induziu melhorias no comportamento fisiológico das videiras, sendo particularmente relevantes na TF.
De uma forma geral, os resultados reforçam a natureza promissora da aplicação de caulino como estratégia de mitigação face ao estresse estival, tendo sido publicados já durante o decorrer do projeto 3 artigos científicos (2 na revista Environmental and Experimental Botany e 1 na Photosynthetica), e mais de 20 comunicações científicas em congressos nacionais e internacionais. Relativamente às plantas tratadas com SiK, a concentração de 0,05% (a concentração mais baixa estudada) foi mais benéfica para a produtividade fotossintética das folhas durante os períodos mais quentes e secos do dia. Estes dados preliminares foram reforçados pelos resultados fitoquímicos obtidos em laboratório tanto em fruto como folha, sendo brevemente divulgados à comunidade científica e técnica.
Ana Gonçalves Luzio | aluzio@utad.pt