“Microbioma da região demarcada do Douro e seu potencial adaptativo às alterações das condições climáticas”
Até dezembro de 2019, os investigadores vão relatar tudo o que foi desenvolvido e as conclusões obtidas ao longo do INTERACT. Neste artigo, a investigadora Catarina Barbosa e as Professoras Arlete Mendes Faia e Ana Mendes-Ferreira, afetas ao projeto “Microbiome of Douro vineyards and its adaptive potential to dry and warm conditions“, dentro da linha VITALITY WINE, enumeram as principais conclusões que obtiveram ao longo destes três anos de investigação.
O impacto das alterações climáticas e das estratégias de mitigação foi avaliado no microbioma dos bagos/mostos e nas características dos vinhos obtidos das castas Touriga Nacional (TN) e Touriga Franca (TF), nos campos de ensaio de duas vinhas submetidas a condições climáticas contrastantes, Baixo Corgo (BC) e Douro Superior (DS), com dois sistemas de condução diferentes na casta TN (Guyot e Cordão) e com ou sem aplicação de caulino nas duas castas TN e TF. Foram mais evidentes os efeitos do ano, da casta e da localização na composição físico-química dos mostos de TN e TF, do que os efeitos do sistema de condução da vinha e aplicação de Caulino.
Figura 1
Os perfis de fermentação dos mostos da sub-região DS foram mais lentos e/ou parados comparativamente aos dos mostos da sub-região BC. Independentemente do ano, a microbiota presente nas amostras de TN com sistema de condução Guyot não apresentou poder fermentativo, uma vez que em nenhum dos ensaios ocorreu a degradação total dos açúcares. Não foram detetados efeitos significativos na cinética das fermentações e/ou na composição físico-química dos vinhos obtidos das uvas às quais se aplicou caulino, ainda que se tenha observado uma redução ligeira na duração da fermentação e maior rendimento em etanol nos mostos/vinhos de TF. O sistema de condução Guyot distinguiu-se, particularmente em 2017, na composição microbiológica e físico-química dos vinhos obtidos.
A análise metagenómica mostrou o impacto da sub-região e das estratégias de mitigação no microbioma dos mostos e na cinética das fermentações:
- A diversidade e abundância das comunidades microbianas correlacionou-se com a variabilidade de perfis de fermentação observados e estilos de vinhos obtidos.
- Leveduras não-Saccharomyces com reconhecido impacto na qualidade do vinho persistiram em elevado número durante a fermentação – Hanseniaspora guilliermondii, H. uvarum e Lachancea thermotolerans;
- O impacto da aplicação do Caulino na composição da comunidade de eucariotas dos mostos/vinhos foi dependente da casta. O efeito não foi significativo em TF, mas mostrou ter um efeito negativo em TN, resultando no aumento das comunidades de fungos, em particular Penicillium e Aspergillus, e na diminuição de leveduras do género Saccharomyces;
- O sistema de condução da vinha em Guyot resultou em maior abundância de fungos filamentosos e menos leveduras, contrariamente ao sistema de cordão;
- O género Hanseniaspora foi representativo das comunidades dos mostos da sub-região BC e o género Aureobasidium mostrou ser mais abundante nos mostos da sub-região DS, independentemente da casta.
Catarina Barbosa | crbarbosa@utad.ptArlete Mendes Faia | afaia@utad.ptAna Mendes Ferreira | anamf@utad.pt
