Investigação INTERACT em destaque na imprensa
Uma investigação parcialmente realizada no âmbito do projeto INTERACT (“Integrative Research In Environment, Agro-Chains and Technology”) esteve em destaque na imprensa durante o último mês.
Realizada por Mário Pereira e Malik Amraoui, docentes e investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e as investigadoras Joana Parente e Isilda Menezes, a investigação sobre a influência da seca nos fogos florestais mereceu referência em vários órgãos de comunicação social como a Agência Lusa, SAPO24 ou a Record TV.
“Nós estudamos o regime de fogo em Portugal e na Europa há quase 20 anos”, refere Mário Pereira. “Desde há muito tempo que identificamos as condições meteorológicas e os padrões atmosféricos associados à ocorrência dos incêndios” e que passam pela existência de vento seco e quente “de leste e/ou de sul, temperatura elevada, baixa humidade e ausência de precipitação significativa nos dias ou semanas anteriores”, descreve.
Focado nos incêndios extremos, fenómenos “cada vez mais frequentes”, o estudo estabeleceu uma relação de causa-efeito entre os grandes fogos e as situações de seca ou de onda de calor. “Para que a vegetação viva ou morta possa arder, é necessário que esteja em condições adequadas à propagação do fogo”.
O estudo passou pela análise de dados entre 1981 e 2017. “Foi necessário combinar as duas bases de dados oficiais de incêndios existentes para Portugal Continental” e que compilam “informação detalhada sobre a data e hora de ocorrência dos incêndios”, para além da “localização dimensão e forma da área ardida” desde 1980. Como “não ocorreu nenhum incêndio extremo” nesse ano, a análise parte do ano seguinte, sendo mesmo “superior ao período de trinta anos recomendados pela Organização Mundial de Meteorologia para a realização de estudos climatológicos”. Depois desta recolha, foram contabilizados “quantos incêndios extremos ocorreram durante períodos de seca e onda de calor e nas áreas afetadas por estes eventos extremos. Os resultados obtidos foram impressionantes”: a investigação indicava que “todos os incêndios extremos ocorreram durante uma seca”, sendo que “97% esteve ativo numa onda de calor”.
Os resultados do estudo podem ser bastante importantes para as autoridades, permitindo “identificar as regiões e períodos onde estes eventos meteorológicos e climáticos extremos são mais frequentes”, além de demonstrar que os grandes fogos ocorrem “nestas condições extremas” e que estes fenómenos “são facilmente monitorizados. As secas são consequências das condições do passado e podem ser facilmente monitorizadas com base em índices calculados com dados anteriores ou por deteção remota”, refere o investigador.
Apesar da investigação se centrar em fogos com uma área ardida igual ou superior a cinco mil hectares, o investigador diz que as conclusões se podem aplicar a incêndios de uma dimensão inferior. No entanto, Mário Pereira ressalva que “a assinatura meteorológica deverá tender a ser menor quanto mais pequenos forem os incêndios”, até porque “ocorrem em condições pouco favoráveis” à sua propagação ou, “apesar de ocorrerem em condições favoráveis ao seu desenvolvimento, foram extintos antes de se tornarem grandes incêndios”.
A investigação, no entanto, ainda não terminou. Há outros caminhos que a equipa quer tomar. “É habitual que, no decurso de uma investigação, se levantem novas questões científicas que se pretende responder”. Temas como a influência da seca e das ondas de calor nos incêndios mais pequenos ou qual o regime de seca para diferentes cenários de clima futuro são as temáticas onde os investigadores se vão debruçar.